A DIVULGACAO TECNOLOGICA PARA O PUBLICO MEDICO: EXPERIENCIAS NA PRODUCAO DE REVISTAS DE INFORMATICA Renato M.E. Sabbatini Faculdade de Ciencias Medicas e Nucleo de Informatica Biomedica da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP As ciencias da saude tem passado por um progresso tecnologico vertiginoso nas ultimas decadas. Desde que a Fisica, a Eletronica e a Informatica comecaram a contribuir fortemente para o desenvolvimento de novos e poderosos instrumentos biomedicos de auxilio ao diagnostico e ao tratamento, os estudantes e profissionais da Medicina, da Odontologia, da Enfermagem, etc., se viram na desconfortavel posicao de ter que utilizar diariamente tecnologias com variados graus de complexidade e sofisticacao, sobre as quais nao receberam nenhuma educacao ou treinamento especifico durante seus periodos de formacao. Especialmente, o desenvolvimento tecnologico e a popularizacao da Informatica, atraves dos microcomputadores, tornou-se um elemento adicional no universo dos profissionais de saude, e e, hoje, encarado por eles mesmos como uma necessidade premente e inevitavel em suas vidas (tanto particulares quanto profissionais). Por exemplo, em um levantamento realizado em 1986 pelo Nucleo de Informatica Biomedica da UNICAMP, em colaboracao com a Associacao Paulista de Medicina (APM) e a empresa farmaceutica Hoechst do Brasil, observamos que de cerca de 6.800 medicos das regioes Leste/Sudeste/Sul do pais, apenas 9 % eram usuarios regulares (diretos ou indiretos) de computadores, enquanto que 80 % nao eram usuarios, mas se declaravam interessados em receber mais informacoes sobre Informatica, para uso futuro (Sabbatini, Sica, Falcoski e Curcio, 1987). A grande disparidade entre os dois numeros evidencia a enorme necessidade de informacao (existem, por exemplo, cerca de 180.000 medicos). Deste modo, caracteriza-se uma situacao interessante, do ponto de vista do jornalismo cientifico: um publico altamente especializado (profissionais de saude) podem ser considerados como sendo leigos quanto a uma face do conhecimento tecnologico. Isso representava, a nosso ver, um desafio, que era o de produzir uma publicacao de divulgacao cientifica e tecnologica especifica para preencher uma lacuna do mercado, pois nao existiam no Brasil, ate entao (1986), revistas ou jornais dedicados ao tema. Por outro lado, o tamanho e o perfil do mercado era extremamente atrativo, teoricamente (Sabbatini, 1992). Esta publicacao deveria ter as seguintes caracteristicas, ao nosso ver: * Conter textos de divulgacao, para leigos, de tecnologias atualizadas na area da Informatica, em nivel introdutorio; * Apresentar e discutir a tecnologia no contexto de uso pratico pelo publico consumidor, ou seja, enfocando aplicacoes em Saude; * Divulgar experiencias nacionais e internacionais em Informatica em Saude, de potencial interesse para o publico leitor * Conter informacoes uteis sobre novos produtos (hardware e software), servicos e publicacoes, eventos tecnicos e cientificos, etc., disponiveis na area de Informatica em Saude; * Encorajar a disseminacao da Informatica na pratica medica e nas instituicoes educacionais, de pesquisa e de assistencia de saude Considerando-se as caracteristicas tecnicas e cientificas da propria Medicina, o estilo e a linguagem jornalistica dessa publicacao deveriam ser diferentes das revistas genericas de divulgacao cientifica, ou seja, o conteudo para leigos em Informatica (portanto, em nivel introdutorio) deveria ser mesclado com um conteudo mais tecnico do ponto de vista da Medicina. Essa composicao, evidentemente, e dificil de ser conseguida, uma vez que desvios no sentido de complexificar o conteudo de Informatica, ou banalizar o conteudo de Medicina, poderiam tornar a revista desinteressante para o publico leitor ao qual se destinava. Assim sendo, fundamos, em agosto de 1986, a Revista Brasileira de Informatica em Saude, primeira publicacao do genero no Brasil e em paises em desenvolvimento (existiam, a epoca, cerca de 10 revistas similares em outros paises). A Revista era produzida inteiramente pelo "staff" tecnico do Nucleo de Informatica Biomedica da Universidade Estadual de Campinas, um dos centros mais capacitados em ensino e pesquisa, no pais, sob nossa direcao editorial, e impressa e comercializada por uma editora especialmente constituida para este fim: o Instituto Brasileiro de Informacao em Saude Editora Ltda, de Sao Paulo. A Revista, com periodicidade bimestral, teve tiragem inicial de 4.000 copias, posteriormente ampliada para 6.000 copias, e era distribuida exclusivamente atraves de assinaturas. Consistia de capa em couche brilhante, em tricromia, e miolo em branco e preto, com 32 a 40 paginas, em papel super-alvura. Possuia, alem de artigos tecnicos e de revisao, as seguintes secoes permanentes: Editorial, Software Aplicativo (com listagens de programas em BASIC e dBASE III), Noticias e Atualidades, Novos Produtos, Leia (novas revistas e livros), Consultoria (perguntas dirigidas pelo leitor ao "staff" tecnico da Revista), Resenha de Livros, Gente (noticias sobre pessoas da area), Opiniao (artigo editorial assinado) e Cursos Introdutorios. O "mix" de artigos era equilibrado entre artigos introdutorios e especializados, porem todos seguindo uma linguagem jornalistica fortemente editorada, para fins de preservacao da unidade estilistica e de adequacao aos objetivos da Revista. A Revista Brasileira de Informatica em Saude foi publicada continuamente entre novembro de 1986 e setembro de 1988, tendo alcancado grande repercussao e interesse. Entretanto, por subsistir basicamente em funcao do ingresso financeiro proporcionado pelos assinantes (o numero reduzido de assinantes e o baixo preco cobrado pela anuidade eram insuficientes), a editora foi forcada a interromper sua publicacao quando houve uma retracao no numero de anunciantes, em decorrencia de um dos varios planos econemicos do governo. Recentemente, a partir de marco de 1993, a Revista reiniciou sua publicacao regular, sob a orientacao editorial de um outro grupo. Tendo em vista as deficiencias econemicas e estruturais que geraram a interrupcao da Revista Brasileira de Informatica em Saude, a partir de abril de 1993 demos inicio a um novo projeto de publicacao, com caracteristicas identicas de publico-alvo, estilo e conteudo. Entretanto, determinamos que, para o sucesso continuado de mais longo prazo de tal revista, ela deveria ter as seguintes caracteristicas adicionais: * Ser mais focalizada quanto ao publico-alvo; * Ser distribuida gratuitamente para o maior numero possivel de medicos; * Ter garantia contratual de continuidade de pelo menos dois anos, com um parceiro comercial (anunciante ou anunciantes) * Ser associada, como orgao oficial, ao Nucleo de Informatica Biomedica da UNICAMP. Apos encontrarmos um anunciante disposto a financiar todos os custos de producao e distribuicao da nova revista, que veio a ser os Laboratorios Biosintetica, uma empresa 100 % nacional de produtos farmaceuticos, sediada em Taboao da Serra, SP, demos inicio a publicacao da revista Informedica. Esta revista tem as seguintes caracteristicas: bimestral, capa em tricromia, miolo em preto e branco (24 paginas), anuncios apenas na segunda a quarta capas, e conteudo e composicao editorial semelhantes aos da Revista Brasileira de Informatica em Saude. A revista e distribuida diretamente pelos representantes farmaceuticos da Biosintetica, para 26.000 medicos, das especialidades de Clinica Geral, Cardiologia, Nefrologia e Neurologia. O primeiro numero e datado de Marco/Abril de 1993. A julgar pela resposta dos leitores, a revista atingiu um grande prestigio e sucesso, tendo cumprido todos os objetivos expressos no inicio deste artigo, alem da garantia de continuidade de publicacao. A partir de 1994, sera tambem distribuida atraves de assinaturas, destinada a pessoas juridicas, profissionais nao medicos, ou que nao estejam contemplados na lista de especialidades atingidas pela Biosintetica. Como exemplo de artigos e programas apresentados nos numeros ja publicados da revista Informedica, temos: automacao de clinicas e hospitais, como implementar o registro medico computadorizado, sistemas computadorizados de apoio ao diagnostico medico, telemedicina, multimidia e realidade virtual em Medicina, softwares de apoio a cardiologia, a Medicina Intensiva, etc. Uma enquete realizada junto aos leitores da Revista esta sendo realizada, com a finalidade de determinar o perfil dos mesmos quanto a experiencia previa com Informatica, interesses de utilizacao, propriedade de equipamentos e grau de interesse e satisfacao com a revista. Os dados preliminares, obtidos pela analise de 200 questionarios ja recebidos, mostram que a grande maioria dos leitores que responderam acham que a revista Informedica tem materias de seu interesse e de facil compreensao (95 %), enquanto que 11,7 % acham que as materias sao de seu interesse, mas de dificil compreensao; e apenas 5 % nao encontraram artigos de seu interesse. Dos respondentes, 71 % ja sao usuarios diretos ou avancados, 7.1 % sao usuarios indiretos, e 20,8 % nao sao usuarios, mas tem interesse futuro em se-lo. No total, 69,5 % dos leitores da revista ja possuem pelo menos um microcomputador proprio. Nota-se, portanto, que a revista tem provocado grande interesse e utilidade para os medicos que ja sao usuarios de computadores. Esperamos completar a recepcao e analise desses dados quando tivermos uma amostra mais representativa (pelo menos 10 % do universo de leitores). Em conclusao, creio que conseguimos, com a revista Informedica, atingir o balanco desejavel no estilo e conteudo do material de divulgacao tecnica e cientifica de Informatica para um publico em grande parte leigo na mesma. Acreditamos que a publicacao esteja tambem atingindo seu objetivo de disseminar o maior uso da Informatica entre a classe medica, o que e extremamente necessario, atualmente, para melhorar a qualidade tecnica e assistencial, atraves do melhor acesso a informacao. Bibliografia Sabbatini, R.M.E. - O mercado de Informatica em Saude no Brasil: avaliacao e perspectivas. Anais do XXV Congresso Nacional de Informatica. Recife, PE: Sociedade de Usuarios de Computadores e Equipamentos Subsidiarios (SUCESU), 1992. Sabbatini, R.M.E.; Sica, J.R.; Falcoski, W.N.; Curcio, R. - Perfil de interesse e utilizacao de computadores pelo medico brasileiro em 1986 : uma analise por amostragem. Resumos do I Congresso Brasileiro de Informatica em Saude, Campinas, SP, p. 147, 1986.` ------------- Publicado em: Anais do IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Cientifico Campinas, SP, marco de 1994